Thursday, July 13, 2006

Mr. Bungle - Disco Volante (1995)


Para quem não sabe, o Mr. Bungle é a primeira banda do Mike Patton, que mais tarde entraria no Faith No More, em 1988. Após o sucesso do multiplatinado The Real Thing (1989), o cara resolveu continuar trabalhando paralelamente com seu grupo original (até então só havia em circulação 4 fitas demo gravadas de 86 a 89). Lançou o excelente Mr. Bungle em 91, o Disco Volante, que aqui será comentado, em 95, e o maravilhoso California em 99.
(curiosidade antes de começar o review: sabiam que o nome original deste último era Californication? Só que aquela banda lá roubou o nome e eles acabaram tendo que mudar...)
Este é um dos discos mais absurdos, pra dizer o mínimo, dos anos 90. Uma salada sonora, com momentos de peso, agressividade, jazz, virtuose, ritmos latinos, música italiana, hardcore, ambiências à la Brian Eno, vozes e mais vozes perturbadoras...
Vai ver que o Patton estava querendo apagar a estigma de ídolo da garotada nos tempos de "Yoooooou want it all but you can't have it!" ("Epic") e foi mergulhando cada vez mais fundo nos experimentalismos (eu gosto bastante dessa palavra, como vocês já devem ter notado hehe), até chegar em picos inacreditáveis (vide os seus dois discos solos, ou suas futuras bandas Maldoror, Fantômas, o projeto com o Naked City, etc...) E não é que nesse álbum ele acerta em cheio?
Ser esquisito é fácil, o difícil é fazer maluquices com coerência, sem soar algo "fiz qualquer coisa que me vinha à cabeça pra parecer gênio depois".
Os músicos são todos de primeira, de deixar o Jon Anderson pensativo. Virtuosos, criativos, e o mais importante: excêntricos!
Acho que o Disco Volante merece até um review música-por-música detalhado:

1.Everyone I Went To High School With Is Dead - trash metal completamente grotesco, de deixar o Cannibal Corpse enojado, entoado em um coro de vozes que mais parece ter saído da Volta Dos Mortos-Vivos. Há alguns momentos atonais, e sem tempo, o que deixa ainda mais grotesco! No encarte do cd, há uma foto de classe, que suponho que seja do Mike Patton. O que será que eles fizeram pra ele ficar tão bravo a ponto de dedicar um título desses a eles?

2.Chemical Marriage - corta o clima tenso da primeira faixa com órgãos e ritmos tribais "calientes", para você ter uma idéia, nem se quer tem guitarras presentes! Se tem, está incrivelmente escondida. Há até um trecho que o Patton cantarola algo que lembra bossanova...

3.Carry Stress In The Jaw - se me permitem dizer, a melhor do disco. Começa com um sax completamente "rebelde", sem regras de tempo, tom, etc, acompanhado por um baixo igualmente maluco... Lembra muito o John Zorn, ou a improvisação "Whip It Out" do Ian Underwood. Aí vem esse tempo marcadinho na bateria, com quebradas, etc... sabe esses jazzistas ferrados? Então... O vocal vai fluindo suavemente, até que entramos numa onda de guitarras distorcidas à la Slayer, voltamos pra zona à la Mothers Of Invention, e entramos novamente no trash podreira. E no fim ainda temos uma "música secreta" com vocais cômicos e suingues espertos...

4.Desert Search For Techno Allah - para ser eclético ao extremo, depois de um trash, um ritmo caribenho, um jazz, e uma quase-bossanova temos um cruzamento de música árabe com nuances industriais do tipo Throbbing Gristle. Percussão, teclados, ecos, e um verso inesquecível ("Qiyamat qiyamat a tawil. Qiyamat qiyamat insan al kamel.") seja lá qual for a língua que isso seja cantado... Mas como o próprio Patton disse certa vez, "às vezes eu me preocupo mais com o som que a palavras têm, e não tanto com o significado das letras..."

5.Violenza Domestica - pra irritar cada vez mais os fanáticos do lema "rock básico arroz com feijão" esses aloprados nos dão um tango, com acordeon e tudo... a letra, obviamente, não é cantada em inglês, e sim em italiano, senão não tem graça pô! hehe Assovios e trocentas quebradas de tempo depois, você acabará se deparando com um monólogo bem obsessivo do Patton "Esculta mi bene...".

6.After School Special - divina, teria tudo pra ser normal, se fosse tocada por outra banda não-ousada, é claro. Esses órgãos, tão competindo com as marimbas do Swordfishtrombones...
E no fim ainda tem uma surpresinha.... "mmm good hahaha" Que coisa mais pervertida...

7.Phlegmatics - reparem só, a bateria entra acelerada, bem estilo hardcore, a guitarra e o órgão idem... aí a música para, entra o baixo, guitarra, vocais que aparentam ser cantados por alguém lá do outro lado da quadra de basquete vazia... e escura... alguém que não bate muito bem da cabeça aliás....
Mas aí a bateria volta, no mesmo ritmo hardcore da intro, num clima completamente diferente do vocal! Horripilantemente genial...

8.Ma Meeshka Mow Skwoz - uma Chemical Marriage mais alucinada, com sax celebrativo, instrumentações de desenho dos Looney Tunnes, uma letra sendo cantada numa língua que eu não faço a menor idéia de qual seja... mas de qualquer jeito, tente cantarolar junto aquele trecho aos 2:24...

9.The Bends - uma suíte ambiental conceitual... o conceito é um cara que está morrendo afogado, e tem 10 minutos, coitado, teve uma morte lenta... Essa faixa é a mais calma do disco, são raras as partes com acompanhamentos rítmicos (como a Aqua Swing), lembra bastante o Delìrium Córdià (2004) do Fantômas. O mais interessante é como essa suíte lembra algo submarino, distante da superfície... os timbres saturados, as flautas "distantes", e sons que vão embora antes mesmo de você poder agarrá-los... E no final esse ruído que vai crescendo, é como se seus pulmões fossem explodir de tanta água... Desesperador, não?

10.Backstrokin' - voltamos aos ritmos dançantes (se bem que isso não se dança em publicamente a não ser que você queira ser preso por atentado ao pudor - isso foi um elogio), com essas vozes cada vez mais distantes... baixinhas, e com ecos... no meio entra essa música de piano de restaurante... e um tema maravilhosamente desconexo com o resto da música no fim... a faixa mais leve do álbum.

11.Platypus - peso, baixo afiado, vocais que vão fluindo, quebrando, te ameaçando, voltando a fluir, pulando de um canal pra outro... aí vem os instrumentos que tocam cada um uma coisa diferente do outro... uma das músicas mais "difíceis" do disco.

12.Merry Go Bye Bye - e chegamos ao encerramento! No início, pensamos até que esse seja o único momento sadio do álbum... uma música romântica estilo anos 50, com uma letra perturbante porém, até que um pouco depois de um minuto voltamos à calamidade de sempre: "You got me walking into suicide..." e de repente parece que o Napalm Death invadiu o baile de formatura assassinando todos os estudantes de terninho branco e estuprando as colegiais nos seus vestidos de festa... aí entra uns efeitos sonoros que lembram um monte de videogames antigos jogados ao mesmo tempo.... e esses vocais monstro, Max Cavalera deve ter "pago um pau"... não é à toa que chamou o Patton pra cantar no Roots do Sepultura, lançado um ano depois.
Atrocidades terminadas, a música volta quase que à capella, só órgão gospel e vocais limpos, cantando o tema do início.

E no finzinho, pra competir com a Day In The Life dos Beatles, entra um pós música esquisito, sem nexo algum... mas infelizmente, não é tão genial quanto ao que os caras de Liverpool fizeram. Aliás, é o único sem graça do álbum, esses minutos finais, onde eles ficando literalmente fazendo baderna nos intrumentos.

Bem, esse pode não ser um Sgt. Pepper's, mas sem dúvida é o Sgt. Pepper's da genial carreira do Mike Patton, que todo ano lança uns 2 álbums novos, pra felicidade dos seus seguidores, como eu!

Se você ouviu o Disco Volante inteiro e está com um sorriso incontrolável no rosto, tá na hora de ir pro Suspended Animation do Fantômas...

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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1:55 PM  
Anonymous Anonymous said...

Keep up the good work. thnx!
»

7:38 PM  
Anonymous Anonymous said...

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»

4:23 AM  

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