Thursday, July 06, 2006

Tom Waits - Swordfishtrombones (1983)


Vou te falar, não é querendo ser pessoal demais, mas esse cara aí É DEUS! Não, semideus. Deus é o Frank Zappa, que Deus o tenha.
Mas ele está no mínimo entre meus 5 artistas favoritos, sem dúvidas.
Bem, a questão é: ele passou por algumas metamorfoses durante sua carreira, que começaria em 1971, com algumas demos "voz e violão/piano", estilo Freewhelin', antes do Bob Dylan usar guitarras elétricas. Eram músicas sobre amores mal resolvidos, fracassos, decadência, no melhor estilo. Sua voz ainda não era tão (incrivelmente) rouca, e os arranjos se baseavam em grande parte no jazz tradicional. Bem, sua voz foi ficando cada vez mais rasgada, provavelmente devido à enorme quantidade de birita, tabaco, etc... O que deixou as suas composições cada vez mais introspectivas e... sinceras! Por que não? Ouça ele cantando "Waltzing Mathilda" em Tom Traubert's Blues (do Small Change, de 1976) e não me diga que não ficou emocionado?
O último disco dessa chamada fase "tradicional" seria a trilha do filme One From The Heart do seu chapa Francis Ford Coppola, de 1982, em parceria com a Crystal Gayle. E logo em seguida, em 1983, veio o choque: Swordfishtrombones.
Arranjos incomuns, instrumentos exóticos, até mesmo as letras e os temas mudaram um pouco. Antes eram apenas corações partidos, sarjetas, hotéis baratos, etc... Agora os mesmos assuntos são abordados, porém de uma maneira um pouco diferente. Os fins continuaram iguais, os meios é que mudaram.
Bem, antes de tudo, este é um disco pra lá de maluco. Alterna momentos de romantismo com alucinações, muitas vezes até unindo as duas características! Tom canta como se fosse a última música que ele cantaria na vida. É o que mais me fascina, a autenticidade na sua voz. Muitos ouvem e têm a impressão imatura de achar que "é mais um excêntrico com voz de bebum". Mas repare bem. As letras, a entonação, a emoção... Agora deixa eu falar logo sobre as faixas antes que eu me empolgue demais:
O álbum abre com Underground, um ritmo que lembra um cortejo fúnebre, regado a marimbas, sopros, bateria e o convite "There's a big dark town, There's a place I've found, There's a world going on Underground!"
O blues está predominante em 16 Shells From A 30.6, Down Down Down, Gin Soaked Boy e Shore Leave (se bem que esta última poderia ser também um jazz decadente, por que não?), na qual o velho Tom demonstra sua marca registrada no último minuto de música. E essas marimbas são a salvação do dia.
Os momentos que mais lembram os tempos do começo de sua carreira são: Johnsburg, Illinois e a Soldier's Things. Essas duas compartilham basicamente as mesmas características, piano, baixo upright do grande Greg Cohen, e vocal... Aliás, os vocais estão quase que "sóbrios", impressionante.
As 3 instrumentais do disco são: Dave The Butcher (sinistra, soa como se os personagens da série Os Monstros, dos anos 60, quisessem de fato assustar as pessoas),
Rainbirds, que obviamente inspirou o nome do seu aclamado álbum de 85, Rain Dogs, fecha o álbum discreta e melancolicamente,
e finalmente a minha favorita Just Another Sucker On The Vine, quando ele pega no acordeon, sempre sai coisa boa (vide Innocent When You Dream, a versão Barroom, do álbum Frank's Wild Years, ou Hang Down Your Head, do já citado Rain Dogs). Esta no caso parece uma música francesa celebrando o dia-a-dia de mais um derrotado afogando suas mágoas no vinho.
E aproveitando que eu mencionei o Frank's Wild Years, a canção homônima é literalmente falada, no estilo cabaré, um órgão e um baixo acompanhando e o Frank contando sua solução psicótica para escapar daquela maldita rotina. Vale a pena ouvir conferindo as letras.
Trouble's Braids segue a mesma linha, vocal falado, só que desta vez o acompanhamento fica a cargo do baixo e das percussões, e sem falar no andamento, que aqui é bem mais rápido, criando um clima neurótico, quase que obsessivo.
A faixa título lembra um pouco os ritmos caribenhos, só que mais dramáticos. Ai ai, essas marimbas... estou começando a achar que o Victor Feldman é um verdadeiro marimba hero. Excelente.
Town With No Cheer abre com uma gaita de fole, mas logo sendo substituída por um teclado tristonho, e o Sr. Waits desabafando como sempre.... "There's nothing sadder than a town with no cheer...."
E por último, mas não em quesitos de importância, temos In The Neighborhood, a ÚNICA faixa alegre do disco, do tipo que se ouve de manhã tomando banho. Lembrando que, quando eu digo alegre, eu digo em comparação ao resto do álbum. Bem, olhando a letra dela, acho que ela não é lá tão positiva assim... É como uma marcha tocada pelas bandas naqueles desfiles populares nos Estados Unidos, sabem? Ele até usou uma dessas bandas no clipe dela: http://www.youtube.com/watch?v=6mM3nGzvoN8&search=Tom%20Waits%20In%20The%20Neighborhood
Esse refrão é perfeito, me faz sorrir um bocado.

Concluindo, é o álbum divisor de águas na carreira do Tom Waits. E esse foi um dos motivos pelo qual eu resolvi comentar sobre ele ao invés de seu disco mais conceituado pela crítica e público, Rain Dogs.

E só para relembrar: Tom Waits é um semideus, canta como Sinatra cantaria se estivesse com uma hemorragia interna, e além disso seus filmes são demais!!! O Selvagem da Motocicleta, Drácula de Bram Stoker, O Pescador de Ilusões, Short Cuts (meu favorito), etc... Não é um Robert Downey Jr., mas é melhor que aquele pessoal que estrela o seriado Friends...

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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1:04 PM  
Anonymous Anonymous said...

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»

3:30 AM  

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