Thursday, July 06, 2006

Vaselines - The Way Of The Vaselines (1992)

Duraram apenas 4 anos, de 1986 a 1990. Assim como o caso do Big Star citado abaixo, tiveram uma meteórica, brilhante e (até então) desconhecida carreira.
Mas esse quarteto escocês é simplismente tudo o que o Belle and Sebastian (também escoceses, que coisa não?) queria ser: simples, carismáticos, "fofinhos" e diretos. Vejamos, por onde eu começo...
Na verdade essa é uma coletânea com 19 músicas, e eu te digo, todas são maravilhosas! Bem, talvez You Think You're A Man, cover do Divine, o travesti que lançou umas musicas aí nos anos 80, seja um momento um tanto "mas o que que é isso???", mas bem, muitas bandinhas "indie de araque" de uns tempos pra cá tem feitos covers de ídolos pop só para criar um estigma cult por cima. E cults de araque podem é lavar o meu saco. Além do mais, os gemidos da Frances McKee no fim da música são um tanto charmosos hehe. Há também o cover da Oliver's Twisted, do mesmo indivíduo, mas está numa versão mais roqueira, ao contrário da anterior, quase que new wave.
Ah! Como pude ser tão grosseiro, esqueci de apresentar: Frances McKee, Eugene Kelly, as duas vozes que você ouvirá conforme o álbum vai rolando. Frances é a garota com a voz mais "sweet little schoolgirl" da escócia (se bem que eu não conheço muitas garotas escocesas, mas...). Eugene, que mais tarde formaria o Eugenius, é o cara que tá do lado esquerdo da capa. É um cara legal, olha só, deixou o Nirvana fazer três covers do Vaselines e receber crédito por cima e nem reclamou. Os covers em questão são: Son of gun, abrindo o álbum, com um ruído de distorção que em poucos segundos dá lugar à suave cantoria que marcará o resto do disco.
Molly's Lips, que ao contrário da versão barulhenta do Nirvana é leve como uma pluma, com vocais quase que infantis (no bom sentido, lullaby, canção de ninar, etc, sacaram?). E de quebra tem uma buzininha que cai como uma luva no refrão. Sem dúvidas um dos destaques da coletânea.
E finalmente Jesus Wants Me For A Sunbeam, que assim como The Man Who Sold The World (David Bowie), viraram hits nas mãos do trio de Seattle no seu estourado Unplugged In New York.
Mas por que estou insistindo tanto no fato do Nirvana gostar deles? Bem, independente da qualidade musical de uma banda que estourou e vendeu milhões, é sempre interessante verificar as influências dos caras, especialmente se forem bandas até então "esquecidas". Assim como os Guns 'n Roses chuparam o som dos New York Dolls e Lou Reed chupou o bilau da metade de Nova York.
As letras conseguem ser irônicas, sarcásticas e muitas vezes até bem-humoradas, mas sem soar clichê (lembra dos cults de araque que eu falei?):
"Monsterpussy, Monsterpussy, meow my monsterpussy"
"I'm a real bitch, I'm a twisted witch, I screw you around when you're feeling down"
"I was born on Christmas day, And all my people turned me away. I got one thing to say, SEX SUX, AMEN!"
E aproveitando que eu mencionei a Sex Sux (Amen) e os New York Dolls, acho que esta música tem uma grandiosa influência dos caras (quando eu digo os caras, eu quero dizer os New York Dolls, não escrevi o nome da banda de novo pro texto ficar gramaticalmente bonitinho), com pianinho e tudo!
Uma coisa que me fascina no Vaselines é a sutileza. Eles usam detalhes minúsculos que alteram e muito a música no fim das contas. Mas isso sem exagerar, usar 48 canais, walls of sound do Phil Spector ou experimentalismos que fazem o Brian Eno sorrir. Apenas um eco na guitarra ali (Dying For It), um tecladinho aqui (Slushy), uma percussãozinha (aqueles batuques na Hairy vieram à calhar), uma quebradinha na bateria (Monsterpussy), uma pseudo cítara (Lovecraft), etc... Até mesmo os erros (que em alguns casos são até propositais) como backing vocals que entram fora de sincronia, uma voz que dá uma desafinada de leve, etc, são de certa forma pra lá de criativos. Isso é uma coisa que me faz (eu disse que ME faz, ou seja, a minha opinião, não a verdade verdadeira) preferir eles do que o também escocês Jesus And Mary Chain.
O mais impressionante é a versatilidade. São criados climas inigualáveis, de trocentas formas diferentes (confira as duas versões de Dying For It pra ver se eu estou mentindo ou não), mas sem perder o molde e a consistência.
Eu já procurei loucamente por mais músicas deles, e até agora, não encontrei nada. Além dum suposto bootleg deles com o Beat Happening. Me sinto mais frustrado que o Ralph Macchio no papel daquele garoto que procura músicas perdidas do Robert Johnson, no filme Crossroads(1986). Pena que depois ele descobre que tudo era uma farsa, o bluesman só havia gravado 29 em toda sua vida.

Sem querer parecer melodramático, o Vaselines é como "um desses momentos maravilhosos na vida que se vão antes mesmo de você perceber que eles chegaram" (Reality Bites, 1994), ou, pra ser mais direto, como aquela música da Liz Phair, "Fuck and run".

3 Comments:

Blogger ele(a)/ela(e) said...

Concordo com tudo, Vaselines é realmente demais, isso mostra como bandas desconhecidas de um certo período influenciam toda sua próxima geração.

4:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Really amazing! Useful information. All the best.
»

3:11 AM  
Anonymous Anonymous said...

Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
»

10:40 AM  

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